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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Sem recalques

Onde está Deus? "Deus está morto!", já dizia Nietzsche. Morto pelos homens que o criaram e o adoraram. O homem! O homem e seu egoísmo. O homem e sua inveja. O homem e seu amor. O homem e sua matéria. O homem e seu egocentrismo. O homem e sua ira. O homem e sua sede. Pois o homem, a tudo destrói. Tem sede de matar, é de sua natureza. Mata o seu igual. Mata a família. Mata o animal. Mata a ideia. Mata o sentimento. Mata a lembrança. Mata a si próprio. Mata tudo o que é vivo. E se o mundo acabar, não será pela natureza ou por Deus. Não, estes já estão mortos. Morreram pela mão dos homens que sentem prazer em destruir. E quando o mundo acabar, foi o Homem que o matou.

domingo, 19 de agosto de 2012

Minhas verdades

Essa única palavra  me colocou em um pensamento intenso. Lunáticos.
Não, talvez não sejamos tão nefelibatas assim. Ouso dizer que apenas somos pessoas que se atreveram a olhar e pensar além de uma barreira imposta.
Pessoas comuns só veem aquilo que está a sua frente, os que ousam fazer além disso são reprimidos, e ai é que está a divisão entre ser o que a maioria considera
como "loucos" ou pessoas normais. No mundo, sempre foi estranho pensar além, pensar as possibilidades, de ver a lógica. Pessoas assim já foram chamadas de hereges, loucos, doentes, vadios, rebeldes. Poucos de gênios.
É estranho deixar a mediocridade da massa para se tornar alguém, singular e pensante.


É isso :)

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Polícia!


Ele pegou meu beijo,
Matou meus sonhos,
Sequestrou meu coração.
Doutor,
Esqueci quem eu sou,
Mas sei reconhecer a face
Do meu malfeitor.
Imagine o seu retrato:
Não há brilho em seus olhos,
Do corpo
Exala um suave veneno,
E entre a roupa preta
Trás o seu instrumento,
O seu violino.
Mas que cara nojento!
Meus olhos brilham, transbordando
A raiva que sinto deste cavaleiro,
Até do meu nome ele já esqueceu,
Sumiu, escafedeu.
E eu ainda choro ao relento,
Como se ele fosse ouvir os versos
Que escrevo.
Alguém pare esse homem!
- o encontrem!-
Faça-o devolver meus poemas,
O brilho dos meus olhos,
O suor da minha pele,
Eu quero o meu beijo.
Mas antes de sair,
Deixem-no me ouvir,
Maldito,
Eu te amo.

O último poema. Um adeus.


Como é difícil ter um muso
Tão complicado.
Mesmo sendo tão platônicas,
Nunca viu nas minhas brincadeiras
A verdade oculta.
Já pensou em aumentar o grau?
Desculpa se foi chocante,
Mas sempre fui sincera
Nessa brincadeira alucinante,
Mas nada de angustiante.
Seu olhar, meus poemas,
Seu sorriso, meus dilemas.
Que duro é ser poeta exigente!
Pense,
No final, não é que eu queira ser mais uma,
Quero ser, só um final de semana
No teu corpo, tua boca, tua mente,
Teus olhos mentem,
Meu muso
Esquecido para sempre.

Sinuoso


O corpo moreno
Fica pecaminoso
Com os raios do Sol.
Ah, os cabelos negros bailando só.

As curvas que os montes tem,
Nada vencem os mistérios
Do horizonte dos teus olhos.
Vai mais além.

A gaivota passa sobre a minha cabeça,
Me faz voar,
Em quantos versos eu descrevo meu mar?

Mergulho em ti,
Já nem penso em mim.
O prazer os amantes dá-se
No encontro dos corpos errantes.

Pegadas


Piso no chão,
Não,
É areia.
Meus pés esfolheiam.
Cinco passadas
Na praia,
Dez pegadas no chão.
Desfruto o céu azul,
É vem à maré cheia,
E as pegas
Somem da areia.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Coisa de menino



Para que ciúmes?
Não faz sentido me negar um sorriso
Por uma ou duas fantasias.
Se quiser mesmo que eu diga,
Eu nem gosto de Química.

Se quiser mesmo, eu revelo,
De que deveria ter um elo
Envolvendo nossos corpos,
Em copos, com o vinho mais embriagante.
O nosso inferno de Dante.

Meu desejo, na tua boca efervesce,
Meus cabelos nas tuas mãos
Desgrenham,
Nossos corpos queimam.

Ainda tens ciúmes dos versos?
Enquanto aquele tolo só me serviu de inspiração,
Você é o meu sistema, controla a minha respiração.
Literatura dos olhos,
Tens meu corpo e meu coração.

domingo, 22 de julho de 2012

60


Um, dois, três,
Seis, quarenta e seis.
Não sou muito diferente de você,
Mas, sou muito mais do que vê.

De dois gametas distintos e fundidos,
Uma nação pôs-se a nascer.
Vinte e três cromossomos vezes dois,
E essa nação põe-se a morrer.

Inconseqüentemente, essa matemática de genes
Se torna pandemia, arma,
A destruição de um mundo emergente.

Um dia a humanidade irá acordar,
Irá ver toda a sua estupidez,
Porque todos nós temos o mesmo número: Quarenta e seis.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Ciel


Há muito
Que a minha felicidade
Eram palavras,
Viraram versos,
Transformou-se em gestos.
A ptialina que molha a boca,
A água que enchem os olhos,
A luz que bate, reflete,
Fazendo-os brilhar,
Faz parecer brincadeira de criança.
Mas perco a inocência
Quando presa fico nos teus braços.
Envolve-me.
Passei os dias pensando em outras luas,
Em maçãs,
Passei os tempos pensando no teu beijo,
No teu nome.
Cielo,
Nem os anjos podem me inspirar,
Me fazer respirar
Toda essa paixão latente,
Me fazer sorrir e
Me fazer dizer,
Que posso sempre acreditar no amor
Quando falo de você.

Sexta sem feira


Que maldade, crueldade,
Estou incrédula
Ao perceber que
Nenhuma cadeia aberta
Poderá me fazer sentir
O arrepio que me percorre
O corpo ao som
Das suas deliciosas ironias.
Minha boca enche d’água,
Ao lembrar os teus
Lábios esboçando um sorriso.
Maldito imprevisto,
Tirou dos meus olhos
Meu muso,
Que demorará a ler
As palavras ousadas que uso,
Para descrever o pulso,
De um coração confuso.
Tantas rimas
Nessas linhas,
Só para falar a você minha vida,
Você me fez falta nesse dia.
Meu português não é o mesmo,
Esse é o efeito,
De uma sexta sem o teu beijo.

Linguística


Sinto o cheiro de uma
Manhã de sexta
Na melodia da tua voz firme
Enquanto fala da literatura.
Teu olhar indireto,
Me fez lembrar
De quando tocou violão,
Ah, queria que a tua mão
Também me dedilhasse assim.
Mas as aulas estão
Longe do fim.
Sem termo, e nem química,
Prefiro bem mais
A sinestesia das tuas ironias.
Que engraçado,
Pois sempre quis
Bagunçar teu cabelo grisalho,
Fazer-te ver tantas estrelas
Até o ponto de novos versos criar.
Para que ciúmes
Minha droga viciante?
O sinal já vai bater,
Vem perturbar minhas declarações
Sonho então com uma
Noite de verão
Com você,
Meu querido...

Além do Show


Quantas notas são necessárias
Pra ganhar um sorriso teu?
Quantas valsas serão dançadas
Pra que eu ganhe os carinhos teus?
 
Rindo, dramatizo
Em quantos atos
Serão reproduzidos os fatos
E os frutos de um amor proibido?

Feche as cortinas
Faça-me cortesã, bailarina,
Menina de pele salina,
De língua felina.

Toque as curvas do violão,
Com as batidas do coração
Dedilhe meus cabelos negros.
Deixe emanar a música do desejo,
Que outrora florescerá
Na aurora dos teus olhos
Verdes.

Ver-te,
Quanto tempo é preciso
Pra que eu descreva o nosso amor,
O nosso secreto paraíso.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Meu vilão


Estava com os meus pensamentos soltos na madrugada. Sim, eles estavam soltos porque não os prendo, acho desconfortável prender qualquer coisa que é naturalmente livre. Por isso que meus pensamentos estavam soltos.
Tinha pegado o papel para escrever. Escreveria um romance. Não, eu daria continuidade a um romance. Bem, eu havia prometido a ele que iria escrever um, então precisava começar, ou simplesmente continuar. Mas algo entre a caneta e o papel virgem me fez parar. Como poderia escrever sobre o romance de terceiros, se nunca mais falei do meu próprio?
Droga. Imaginei-o esperando um e-mail com qualquer verso meu. Ele não falava, mas sei que esperava. Quem não esperaria? O que me impedia? Medo. E disso eu tinha certeza. Respirei, tentei escrever seu nome algumas vezes, mas a única coisa que saia era rabiscos de tinta preta aleatórios. Não começaria por seu nome. Não desta vez.  Passei por um espelho e vi a imagem gravada no meu corpo, era muito mais que tinta colocada permanentemente na pele. Meu violino, eu era um violino, eu era dele, eu sou o violino dele. E sendo assim, que mal haveria de lhe escrever? Peguei o papel e escrevi.
Seus olhos são castanhos esverdeados, e li uma vez que ele procurava pelo seu violino perfeito. Acho que felizes são os violinos que o servem, mas não podem escutar suas murrinhas.  Sinto que é ai que me distancio do violino perfeito que ele deseja.  Ah, mas que ser mais insuportável é ele! E aquele sorriso de que está sempre no controle? Um babaca! Amassei o papel e joguei fora, sentia raiva dele. Poderia estar escrevendo meu romance, mas não, estou tentando mais uma vez mostrar meus sentimentos a ele. Talvez... Talvez ele seja uma porta e eu nem percebi!
Mas quem sou eu para querer a morte dessa porta negra sorridente? O Vilão perfeito que eu esperei todo o tempo para me levar embora. Por que o rejeitaria? Vilões são chatos, então tenho que aceitar. Esse meu vilão, detesto quando dá uma de mocinho. Esse meu vilão. Ele veste preto, e para mim, é a única coisa que lhe cai perfeitamente bem. Combina com seus olhos frios e ensurdecedores.  Ele é alto, um pouco forte, não muito, mas o suficiente para me prender em seus braços. Ele não pensa em mim. Mas eu sei que em raros segundos, minha imagem vem em sua mente, eu sei que ele sorri quando se lembra de mim. Nenhum violinista, por mais atarefado que seja nunca... Repito, NUNCA, esqueceria de seu violino. Não do seu violino perfeito.
Peguei outro papel e escrevi. Coloquei seu nome, e depois outra frase. Terminei. Não mostraria a ele, não dessa vez. Só pelo meu sorriso ele adivinharia o que eu havia escrito. Ah esse meu vilão.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Nublado



Hoje o tempo não e o mesmo que ontem,
A chuva que cai me faz lembrar
Dos sonhos de alguém.
Não sei bem o que é,
Mas tudo isso que eu poetizo,
Me faz bem.

Já não lembro mais de ninguém.

Uma a uma
As gotas caem,
Parece que alguém
Sussurra no meu ouvido:
-Eu duvido.

Continuo vivendo,
Eu poetizo.

domingo, 22 de abril de 2012

Quebra


Por que você percorre a minha mente?
Some e me esquece,
Quando aparece me emudece.
Que raiva de ti por existir,
Que raiva de mim
Por ainda pensar em ti.
Que então morra!
Não suporto mais o som do violino,
Não quero ver o seu sorriso.
Não quero campos floridos
E um Sol sorrindo...
Droga, o Sol não sorri!
Ele é só um astro que vai explodir,
E junto com você, ruir.
Eu quero o novo papel,
Um lápis apontado,
Quero enamorar as palavras
E deleitar-me com grandes poetas.
Quero ouvir estrelas,
Poetizar a vida,
Beber as rimas.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Acordes


Eu não lembro, sinceramente,
De ter lhe dito
Eu te amo.
Esqueci realmente, de como
É o seu rosto,
Do calor da sua pele,
Das coisas fúteis
Que o diverte.
Adverte o perigo
Que trás o seu sorriso
Malicioso, meu grande menino.
Lembro-me, sinceramente,
Do tempo perdido.
Agora percebo
Meu compositor,
Que assim como na tua melodia,
Tudo sempre te disse.
Fico feliz, o erro foi seu,
Foi um mau amigo,
Mau leitor,
Meu bom amante,

Meu eterno amor

terça-feira, 17 de abril de 2012

Pensamento inútil


Começo a pensar,
O amor não é para mim.
Inutilmente, ainda procuro,
Ando buscando
O calor nos braços de alguém.
Vem,
Olha eu também tenho um coração,
Ele também bate como o seu.
Eu também choro como você.
Não veja as outras pessoas normais,
Eu sei que possuo tudo o que
Você quer,
Eu tenho muito mais.
Desculpa se sou ainda romântica,
Sonhadora, platônica,
Mas eu ainda acredito
Que esse estranho sentimento,
Pode mudar o mundo.
Pelo menos, mudar o meu,
O seu, o nosso.
Percebo então
Que o amor também pode
Ser meu.
Apenas falta você
Perceber o que já era obvio.
Perceber, que juntos
Formamos um só ser,
Um só amor,
Uma só canção.

domingo, 25 de março de 2012

Conto de Primavera X

Não sei se isso já te aconteceu, talvez sim, afinal, eu não sou a única pessoa do mundo com problemas. Senti-me como uma raposa, traiçoeira e vigarista, mas, a minha intenção não era prejudicá-la. Talvez, eu pensasse que não era. Nunca confiei em mim.
Ela. Tentei fazer da vida dela a vida que eu queria ter quando tinha sua idade, quis que ela não cometesse os meus erros. Acabou que ela comentou outros erros, e piores. Quando vi o meu mais “novo erro”, fiquei horrorizada. Sou um monstro!-pensei-. Meu olhar tornou-se perdido no nada, minha face, pálida. Não tinha mais vida.
Vida... Eu estraguei a vida dela. E ela não sabe, em parte. Recuso-me a olhar para ela, recuso-me falar com ela. Esquecê-la-ei. Um vento quente faz arder meus olhos banhados por lágrimas, o verão chegaria daqui a três dias, ah, eu odeio o verão um pouco mais do que a primavera. Não suporto o calor.
Por isso, sou fria. E por que ainda choro? Meu erro foi conhecê-la, somos diferentes apesar de iguais. Não posso querer viver com ela, não é permitido que eu a ame. Tenho uma vida diferente com novas escolhas, e, tenho que enfrentá-las. Esse meu mundo não a pertence.
Ligo a moto e piloto até a praia. Finalmente uma brisa fresca, como a primavera é irônica. Esquecê-la-ei.

terça-feira, 13 de março de 2012

Conto de Primavera IX

Eu disse que a primavera era pior das estações, incrível ou não, enquanto todos estão felizes, eu fico em total oposição.
Outrora aquele príncipe nórdico que enfrentaria o mundo pelo o meu amor, hoje, ele me diz que estou afastando de mim às pessoas que me amam. Parece dramático, romântico. Uma verdadeira novela. Parece que estou fazendo uma grande hipérbole, pontos que são comuns em uma alma poeta, pena, que isso tudo não é mais uma hipérbole minha.
Mas eu o perdi, ele e um tanto de riqueza. Perdi para o meu ego, meu monstro, eu o perdi por mais uma história de sucesso. Meu cachorro pulou no meu colo para arrancar-me de uma mortal melancolia, coloquei sua cabeçorra entre minhas mãos e o olhei nos olhos, sorri e beijei-o a testa.
Ele saiu saltitante achando que tinha salvado o mundo. Eu fiquei a olhar as minhas mãos. Lembrei. Queria que entre elas estivesse o rosto dele. Queria estar encarando os olhos verdes daquela face, beijar aquele homem.
Mas eu o perdi, ele e um tanto de amigos. As minhas riquezas. Afastei-me então do que ainda tenho, para que as últimas lembranças sejam boas. As cores monocromáticas da televisão, bombardeavam-me como se fossem raios de luz. Mas elas eram raios de luz. Fiquei apática, estática e monocromática, olhei o calendário e faltavam mais alguns dias para o verão. Até quando a vida seria injusta?
Não, a vida não é injusta, somos nós que burlamos as regras e depois a culpamos por nos aplicar a justiça.

domingo, 11 de março de 2012

Conto de Primavera VIII

Outrora sonhei que na cama de lençol branco, se formava a sombra da sua mão que percorria meu corpo. Lembrei dos seus dedos calejados desenharem-me o rosto em meio a palavras embaraçadas antes daquele beijo. Não fazia nem uma semana, e minha mente revirava as lembranças atrás de um sorriso seu, procurava um modo de tê-lo novamente.
No meu sonho de sombras sua boca me beijava o umbigo, mantive os olhos fechados, sabendo que se aproximaria do meu rosto. Sua respiração o denunciava, era tão forte próxima a pele que me arrepiava. Esperar é um exercício de paciência e desejo, mas com o passar do tempo, também se transforma em martírio.
Abracei-me forte, apertei o peito como se quisesse arrancar essa agonia que me afligia. O vento que invadia o quarto através da janela escancarada fez-me imaginá-lo como uma seda deslizando sobre mim.  Deus! Oh Deus, que mal eu fiz para desejar tanto esse homem que a mim é proibido? Que fiz, eu, para ter que esperar um tempo que nunca passa e não chega?! Ah Alphonsus, acho que também escuto a lamúria dos sinos.
Ouço campainha tocar, arrumo o cabelo e mudo meu semblante, na porta vejo uma surpresa. Ele vinha com o mesmo sorriso, o mesmo perfume que me embriagava forçando-me a fechar os olhos. Senti sua mão quente afagar meu rosto. Sorri.
Uma flor desabrochava lá fora.

Conto de Primavera VII

A tarde esvaia com tons de um vermelho rose que provinham dos últimos raios de sol naquela parte da terra. Dentro da casa, à meia luz, olhava pacientemente uma garrafa de vinho tinto vazia, me lembrando que fazia algumas horas que naquela hora ele havia chegado outrora. Peguei uma taça e olhei o resto de vinho que ali permanecia, era tão rubro e vivido... Não sabia mais se era a bebida ou o desejo dele, mas, apenas nos três éramos testemunhas e cúmplices de tal consumação. Sim, nos três, eu, ele e o vinho.
Ele chegara do mesmo jeito de sempre, um pouco acanhado. Aquela idéia o assustava, e não o culpo. Possuía os mesmo olhos maliciosos, e, o mesmo sorriso silenciador. Só as mãos dele, calavam qualquer parte do meu corpo, porém, contive meus pecados e lhe dei um beijo no rosto.
Ele ainda tocava violão. Lembro de quando fiquei fascinada ao vê-lo tocar. Tocava ainda a velha e boa Bossa. Entre um acorde e uma ironia, eis que chega o terceiro, o agente corruptor: a taça de vinho. Os risos aos poucos começaram a cessar, o silencio vinha carregado de olhares carnais, um desejo que nunca escondi daquele homem. Logo vieram os carinhos, os beijos, abraços; cobria-o de amor e ele descobria-me de tudo.
Mas logo o tempo passou, e a luz que era meia, passou a ser inteira e radiante, e ele partiu. Ficamos a dois, o vinho e eu, a devanear pelo dia sobre as coisas que ocorreram. Quando a tarde voltou, me encontrei no último cálice, quando ele retornaria?
Teria que esperar alguns meses. De supetão peguei as chaves e bati a porta. Não esperaria sequer mais um segundo.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Conto de Primavera VI


Estava indo ao ponto de ônibus, esqueci de colocar gasolina na moto. Acompanhada de meu amigo, o mesmo que é psicólogo e que ainda tem um enorme Black Power (só que reduzido a trancinhas), estávamos esperando meu ônibus. Era já noite, não fazia frio e nem calor, clima típico da primavera. Foi então que começou a perseguição dos ônibus.
Passou um que ia para o Terminal da França. Passaram um ou dois diferentes, mas logo vieram três, um atrás do outro, eu disse três Terminal da França. É angustiante a espera do transporte coletivo, ficamos minutos a fio esperando, e quando algo surge lá no horizonte de milhões de carros, apertamos os olhos para poder ler o letreiro, o coração dispara com a esperança de ir para casa com a clara possibilidade de superlotação, e então vem a decepção: outro Terminal da França. E fica mais frustrante quando as horas vão passando e a única coisa que passa é o maldito Terminal da França, e o sacana do meu amigo rindo da minha casa de desiludida. E eu nem sabia em que raio ficava o Terminal da França, e o que é que tem tanto nesse lugar para ter infinitos ônibus de todas as cores?! Estava indignada, e me irritava mais a cada Terminal da França que passava. Vou precisar de horas com um psicólogo.
Mas toda tortura tem seu fim. Meu ônibus chegou, despedi-me. Ao entrar, encontro outra frustração: o ônibus estava super lotado.
Gabriela Vaz