Estava com os meus pensamentos soltos na madrugada. Sim,
eles estavam soltos porque não os prendo, acho desconfortável prender qualquer
coisa que é naturalmente livre. Por isso que meus pensamentos estavam soltos.
Tinha pegado o papel para escrever. Escreveria um romance.
Não, eu daria continuidade a um romance. Bem, eu havia prometido a ele que iria
escrever um, então precisava começar, ou simplesmente continuar. Mas algo entre
a caneta e o papel virgem me fez parar. Como poderia escrever sobre o romance
de terceiros, se nunca mais falei do meu próprio?
Droga. Imaginei-o esperando um e-mail com qualquer verso
meu. Ele não falava, mas sei que esperava. Quem não esperaria? O que me
impedia? Medo. E disso eu tinha certeza. Respirei, tentei escrever seu nome
algumas vezes, mas a única coisa que saia era rabiscos de tinta preta
aleatórios. Não começaria por seu nome. Não desta vez. Passei por um espelho e vi a imagem gravada
no meu corpo, era muito mais que tinta colocada permanentemente na pele. Meu
violino, eu era um violino, eu era dele, eu sou o violino dele. E sendo assim,
que mal haveria de lhe escrever? Peguei o papel e escrevi.
Seus olhos são castanhos esverdeados, e li uma vez que ele
procurava pelo seu violino perfeito. Acho que felizes são os violinos que o
servem, mas não podem escutar suas murrinhas. Sinto que é ai que me distancio do violino
perfeito que ele deseja. Ah, mas que ser
mais insuportável é ele! E aquele sorriso de que está sempre no controle? Um
babaca! Amassei o papel e joguei fora, sentia raiva dele. Poderia estar
escrevendo meu romance, mas não, estou tentando mais uma vez mostrar meus
sentimentos a ele. Talvez... Talvez ele seja uma porta e eu nem percebi!
Mas quem sou eu para querer a morte dessa porta negra
sorridente? O Vilão perfeito que eu esperei todo o tempo para me levar embora.
Por que o rejeitaria? Vilões são chatos, então tenho que aceitar. Esse meu
vilão, detesto quando dá uma de mocinho. Esse meu vilão. Ele veste preto, e
para mim, é a única coisa que lhe cai perfeitamente bem. Combina com seus olhos
frios e ensurdecedores. Ele é alto, um
pouco forte, não muito, mas o suficiente para me prender em seus braços. Ele
não pensa em mim. Mas eu sei que em raros segundos, minha imagem vem em sua
mente, eu sei que ele sorri quando se lembra de mim. Nenhum violinista, por
mais atarefado que seja nunca... Repito, NUNCA, esqueceria de seu violino. Não
do seu violino perfeito.
Peguei outro papel e escrevi. Coloquei seu nome, e depois
outra frase. Terminei. Não mostraria a ele, não dessa vez. Só pelo meu sorriso
ele adivinharia o que eu havia escrito. Ah esse meu vilão.