Páginas

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Meu vilão


Estava com os meus pensamentos soltos na madrugada. Sim, eles estavam soltos porque não os prendo, acho desconfortável prender qualquer coisa que é naturalmente livre. Por isso que meus pensamentos estavam soltos.
Tinha pegado o papel para escrever. Escreveria um romance. Não, eu daria continuidade a um romance. Bem, eu havia prometido a ele que iria escrever um, então precisava começar, ou simplesmente continuar. Mas algo entre a caneta e o papel virgem me fez parar. Como poderia escrever sobre o romance de terceiros, se nunca mais falei do meu próprio?
Droga. Imaginei-o esperando um e-mail com qualquer verso meu. Ele não falava, mas sei que esperava. Quem não esperaria? O que me impedia? Medo. E disso eu tinha certeza. Respirei, tentei escrever seu nome algumas vezes, mas a única coisa que saia era rabiscos de tinta preta aleatórios. Não começaria por seu nome. Não desta vez.  Passei por um espelho e vi a imagem gravada no meu corpo, era muito mais que tinta colocada permanentemente na pele. Meu violino, eu era um violino, eu era dele, eu sou o violino dele. E sendo assim, que mal haveria de lhe escrever? Peguei o papel e escrevi.
Seus olhos são castanhos esverdeados, e li uma vez que ele procurava pelo seu violino perfeito. Acho que felizes são os violinos que o servem, mas não podem escutar suas murrinhas.  Sinto que é ai que me distancio do violino perfeito que ele deseja.  Ah, mas que ser mais insuportável é ele! E aquele sorriso de que está sempre no controle? Um babaca! Amassei o papel e joguei fora, sentia raiva dele. Poderia estar escrevendo meu romance, mas não, estou tentando mais uma vez mostrar meus sentimentos a ele. Talvez... Talvez ele seja uma porta e eu nem percebi!
Mas quem sou eu para querer a morte dessa porta negra sorridente? O Vilão perfeito que eu esperei todo o tempo para me levar embora. Por que o rejeitaria? Vilões são chatos, então tenho que aceitar. Esse meu vilão, detesto quando dá uma de mocinho. Esse meu vilão. Ele veste preto, e para mim, é a única coisa que lhe cai perfeitamente bem. Combina com seus olhos frios e ensurdecedores.  Ele é alto, um pouco forte, não muito, mas o suficiente para me prender em seus braços. Ele não pensa em mim. Mas eu sei que em raros segundos, minha imagem vem em sua mente, eu sei que ele sorri quando se lembra de mim. Nenhum violinista, por mais atarefado que seja nunca... Repito, NUNCA, esqueceria de seu violino. Não do seu violino perfeito.
Peguei outro papel e escrevi. Coloquei seu nome, e depois outra frase. Terminei. Não mostraria a ele, não dessa vez. Só pelo meu sorriso ele adivinharia o que eu havia escrito. Ah esse meu vilão.