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segunda-feira, 30 de março de 2015

35-70 mm

A coxa dourada se destacava dos lençóis brancos, ela ia movendo-se lentamente feito uma serpente pela cama. Suas mãos hora percorriam o próprio corpo, hora cravava-se nas cobertas, seus olhos ciganos, delineados com uma maquiagem preta, o observava como uma leoa faminta.

E ele a olhava com seus olhos e lentes. Clack, clack. Ele respirava fundo, suava. Clack, clack. As posições que ela fazia eram provocativas demais, sua pele macia era convidativa ao toque. Clack. Ele podia capturar até quando os pelos dela se eriçavam, quando sua boca carmesim suspirava o mais melódico e doce gemido. Controlar-se-ia, mesmo pulsando, controlar-se-ia. Clack, clack. Só mais algumas fotos, dizia a si próprio em tom de consolo.

Sentiu um calafrio percorrer toda a espinha, ela sorria travessa. Ser observada em cada detalhe, em diferentes ângulos era estimulante. Imaginar o desejo dele sendo colocado nas fotos que fazia misturando-se a libido que ela transbordava, a deixava extasiada. Inclinou-se de bruços deixando a esférica bunda bem empinada, a luz do sol que entrava no quarto dourava ainda mais a pele tigrada, ela rebolava, quase um mantra. Um transe. Transa. Ela o chamava.

Ele trazia ainda mais pra perto a câmera, focando em suas minúcias, congelando para sempre a febre de seus corpos, a sede de suas perversões. Clack.

Era excitante ser fotografada.


Enfim, consumiram-se.

sexta-feira, 6 de março de 2015

A vista ou a prazo

Ei, moço!
Ô, moço!
Tem medo não, que amor não é.
Talvez seja paixão,
Mas desses bichos, o sinhô pode ficar tranquilo,
Porque dele, eu já tive aos montes!
De todo jeito, e até de qualquer jeito.

Tem medo não, pode fazer carinho,
Esse aqui é bonzinho, e não morde não.
Essa paixão é faceira, é dengosa;
Se arrepia com palavra no pé do ouvido,
Soube até que é fogosa.

Moço, olha bem pra mim,
Sou poeta, e crio paixão desde que me entendo por gente.
É verdade que quando se apega
A paixão pega e faz o que quer com a gente.
Mas é tão bom ter esse bicho no peito,
Que depois de acostumado,
O patrão nem vai lembrar mais dos machucados.

Ô moço, vai não! Fica!
Se aprochegue, já lhe disse que não vai doer.
Vem sentir o coração esquentar e o corpo tremer
Quando eu, menina, cheia do sorriso
Olhar pro’cê.
Dotô, experimenta essa paixão aqui,
Essa é das boas,
Eu mesma que fiz!

Vem cá comigo bailar a noite inteira sem ligar pro amanhã;
Vem cá deitar comigo nesse colchão;
Vem ouvir comigo o som do trovão.
Ô moço,

Vem cá viver essa paixão.