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terça-feira, 28 de setembro de 2010

O Vinho


Como Jesus

Quisera eu um dia,

Transformar água em vinho.

Quisera eu,

Transformar tal platonismo em realidade,

Beber o vinho do teu cálice.


Em um lento movimento,

De fermentação e envelhecimento,

Teus lábios tintos ficam.

E meus pensamentos pecaminosos,

Conspiram e respiram

O doce trago de vinho

Do teu corpo.


Gabriela Vaz

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Zuzu



A Vinícius Zumaeta

Você sabe por que o céu é azul?
Ou como o Himalaia foi formado?
Que criatura do mal,
Você precisa ver melhor,
Seu Zé Coió.

Você sabe a Lei da Gravitação Universal?
Que alma perdida,
Fica aí com essa cara maligna
Ocupando o tempo do professor de Física.

Você imagina por que o sol se põe?
Ou só sabe fingir fazer suposições?
Coitado, pobre ser que tenta fazer melhor,
Prefiro viver sobre duas rodas,
Do que ser,
Um Zé Coió.






Gabriela Vaz

terça-feira, 21 de setembro de 2010

E eles voltaram!

E há como eles terem partido?

Enfim, meus caros leitores ausentes de ignorancia,
Essa é a volta dos poemaas.
Porém se caso vocês gostaram dos Contos de Inverno - sim, ficarei super feliz-, não é o caso de ficarem tristes, pois logo eles também voltaram nas flores da primavera. Não literalmente na primavera, mas eles iram voltar quando os poemas precisarem de um recesso...

Ativo, passivo, ativo, passivo, dominante, recessivo...enfim né Mell?!

Deleitem-se bastante nessa nova safra!

Beijos de Café :D

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Conto de Inverno X


Azul. Minha visão era calma e azul por dez segundos. Respirei, uma golada rápida de ar e voltava ao meu pequeno mundo azul de vinte e cinco metros.
Fazia frio, não chovia, mas ventava, a água estava quente, balancei a cabeça tentando afastar a idéia do frio que sentiria ao sair da piscina. Parecia loucura nadar no inverno. Não parece loucura, é loucura, e o que me conforta é que existem outras pessoas, loucas como eu, ocupando as outras raias. Coloquei o óculos novamente no rosto, tomei impulso e nadei.
Um quarto vazio em uma noite agradável, sentia minha mente vazia quando encontrava-me de baixo d’água. Era um prazer único, inexplicável, sentir a água hidratar meus lábios e deixar meu maiô com um perfume delicioso de cloro. Uma volta, duas, logo fazia 300 metros, sentia o corpo leve, uma felicidade enorme preenchia-me a alma. Retirei a touca, molhei meus cabelos, com um impulso sai de vez da piscina, sentei na borda e fiquei ouvindo o som dos braços e pernas baterem na água de diferentes formas. Era uma sinfonia perfeita.
Peguei a toalha e sequei-me, desembaracei o cabelo com os dedos, havia deixado o pente em casa novamente. Ri do meu freqüente esquecimento. Pegava a mochila pensando no ônibus cheio, decidi, iria comprar uma moto.

Gabriela Vaz

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Conto de Inverno IX


Voltava. Hoje é o primeiro dia que não chove, o sol tentava sair do emaranhado de nuvens que carregavam água em todos os seus estados. Os fios de luz tocavam o solo encharcado e fazia as folhas das árvores reluzirem o seu mais esplendoroso verde.
As sombras dos recortes do mato passavam pelo vidro do carro e paravam, e passavam, pelo meu rosto como um filme. Acariciava a cabeçorra do meu pequeno cão, que retorcia-se de preguiça nas minhas pernas. Voltava, meus pensamentos eram aéreos, mas sempre tive os pés no chão. Voltava para a realidade.
Gostava do campo, mas as minhas mãos pulsavam para escrever sobre o frenesi da cidade, sobre a valsa de cores que a noite esbanjava em suas placas de neon, sobre o passar elegante de um belo empresário infeliz e o músico de rua inundado em felicidade. Voltava para os meus poemas, minhas colunas do jornal.
Uma parada para o almoço. Passava do meio-dia, meu cachorro feliz esticava as pernas, eu, mais feliz ainda, via a chuva voltar, afinal não choveu de manhã, mas nada garanti sobre a tarde. Almocei um prato simples das coisas que um ser humano normal poderia comer; ainda acredito que em uma cozinha de um restaurante de estrada existem mais coisas do que sonha a nossa vã filosofia.
Voltava. Voltei para a estrada, meu fiel motorista – meu pai- voltava a cantas suas músicas sertanejas, meu cachorro voltava a latir no ritmo das músicas de meu pai, voltava a chover. Eu voltava a sorrir.

Gabriela Vaz

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Conto de Inverno VIII



A panela quente exala um cheiro doce de açúcar, no seu interior, uma barra de chocolate funde-se ao leite condensado. Uma mulher de longos cabelos negros e um sorriso malicioso no rosto mexe o tacho enquanto canta uma música fúnebre. No lado de fora do antigo casebre, nevava.
Poderia facilmente dizer que estou falando de uma das histórias clássicas do mundo, ‘João e Maria’, onde as crianças encontram ma casa toda feita de doce. Mas não era bem essa história, esse foi um jeito simples de dizer que eu estava fazendo brigadeiro no chalé dos meus pais.
Minha empreitada deu-se porque, papai e mamãe haviam saído para comprar comida na feira, a dispensa já estava vazia. Me deixaram em casa pois recusei levantar da cama as cinco da matina enquanto lá fora fazia 5°C e debaixo do meu cobertor fazia uns 18°C. Não tenho culpa. Mas a verdade é que, por causa da neve, eles ainda não retornaram, e eu fiquei com fome. Encontrei uma lata de leite condensado perdida, e algumas barrinhas de chocolate no pote de doces, era o suficiente para acalmar o meu estômago.
Com o brigadeiro no prato, fui aninhar-me no parapeito da janela para observar a neve cair. Aquele momento me fizera lembrar um tempo, de uma pessoa que amara muito, e que só de lembrar daqueles olhos verdes já sentia o coração aquecer. O vento seco do inverno suavemente soprou meu rosto, fechei os olhos, era como se ele me acariciasse de novo. Fitava novamente o branco simbolista, que cobria feito açúcar a paisagem. Ao longo da estrada vi um homem de cabelos louros olhando para mim. Senti o corpo gelar, o coração acelerar, ele sorria para mim. Coloquei o brigadeiro no sofá e calcei as botas para neve, abri a porta depressa e pulei o portão, corri o mais rápido que pude para finalmente poder encontrar-me nos braços daquele homem.
Ninguém. Não havia ninguém. Ao chegar na encruzilhada, aonde o tinha avistado, ele não estava lá. Então tudo aquilo fora uma peça da minha mente, o constante vapor d’água condensado saía da minha boca enquanto meus pulmões permaneciam em brasa, olhava para todos os lados incrédula. Era ele, eu sei. Parecia tão real. Os olhos encheram-se de lágrima, senti uma profunda aflição, mas não chorei. Sabia que ele não iria gostar de me ver chorando, sempre acreditou que eu era forte. Queria saber onde ele estava.
Conformada com esse delírio, voltei com um lento caminhar para casa, abri o portão e olhei para a porta, meu cachorro me esperava quieto, como se compreendesse minha dor. Ao chegar na varanda ainda olhei para trás, queria ter certeza que era uma ilusão, e era. Entrei em casa e me dei conta do brigadeiro. Já era, meu cachorro havia comido tudo, por isso que ele estava quieto. Suspirei e fui lavar a louça.
Lentamente, de tas de uma árvore sai um homem. Este derramava singelas lágrimas dos olhos verdes. Olhou o chalé ao longo da encruzilhada, passou os dedos calejados pelos fios louros que lhe cobriam a cabeça, um sorriso lhe preencheu o rosto sofrido, “Ela não chorou”, disse, e tomou o caminho para sair da cidade.

Gabriela Vaz

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Conto de Inverno VII


Sexta-feira à noite, os faróis do carro iluminavam a estrada de barro em meio à imagem confusa da forte chuva na paisagem. Jogada no banco de trás e agasalhada com grossos capotes, eu tentava identificar as formas nebulosas durante o caminho que dava no chalé dos meus pais.
Dirigindo o carro, meu pai cantava junto ao meu cachorro, este com mais privilégio ficou no bando da frente. Atenção, quando você for visitar seus pais que não vê há algum tempo e o seu cachorro lhe tomar o lugar no carro só porque tem disposição de latir no ritmo das músicas sertanejas que o seu pai gosta, com certeza isso é um grande problema. Mas lá estavam os dois como grandes companheiros e, para não perder o costume, meu pai passava a mão pelos cabelos negros que se misturavam à grande quantidade de fios brancos da velhice, coçava três vezes aquele grande nariz e reclamava do meu modo de vida, dessa vez ele ficou indagando-me por que eu não tinha um carro. Lógico que nessa discussão, só ele falava; no inicio eu pensei que ele estava declamando usando apostrofes ao seu bel prazer.
Foi uma eternidade de canções e reclamações, mas finalmente chegamos ao chalé. Na mesa que me esperava para o jantar, uma vistosa torta de cenoura com chocolate, pães quentinhos, queijo e manteiga caseiros, sucos, leite, e claro, reinando no centro da mesa: O café. Não é preciso dizer que me deliciei com esta farta refeição.
Logo depois a televisão foi ligada, meus pais juntinhos assistiam à novela. Meus velhos eram engraçados. Depois de escovar os dentes com a inspetoria da minha mãe, fui deitar. Não é surpresa que o meu cachorro já estava despojado sobre os meus lençóis, empurrei-o e suspirei, um mosquito veio perturbar-me. Despejei nele metade do inseticida, então virei e dormi no mio daquele ar venenoso que não mata as plantas.

Gabriela Vaz

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Conto de Inverno VI


Uma vez, duas, três, cinco. Espirrei cinco vezes ou mais, espirrei o suficiente para que ficasse com a cara de uma pessoa drogada. Na vida tudo tem suas consequências. Por exemplo, se você tomar um café muito quente, provavelmente queimará a língua; se você não atender ao pedido do seu cachorro pela manhã, em troca por mais cinco minutos na cama, quando acordar a sua casa provavelmente terá sido destruída por uma pequena catástrofe que late; e se você tomar um belo banho de chuva, provavelmente você ficará com um belo resfriado. Espirrei mais uma vez.
Meu cachorro me olhava com um ar de vencedor e como desejasse me dizer algo do tipo, “você é louca, ou tem desvios de personalidade”, cai em risos e lhe beijei a cabeçorra, parecia que todos diziam isso de mim. O telefone tocava, lembrando-me das minhas obrigações, olhei o calendário e vi que logo o inverno terminaria. Um sorriso desolado encobriu minha pele rija e gélida, lá fora nevava.
O sobretudo preto combinava com as lustradas botas, também pretas, e fazia um frio contraste com o cachecol roxo. Peguei a bolsa no sofá, acariciei meu cachorro e conversei com ele, como se fosse um homenzinho: “cuide da casa”, foi o que disse.
O telefone tocou outra vez, sai apressada de casa e de cara recebi o vento gelado do inverno. Sorri.Fui andando depressa para o ponto, estava muito atrasada. O ônibus chegava. Espirrei.

Gabriela Vaz

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Conto de Inverno V


Com dizer que eu tenho uma grande paixão? Afinal, eu sou apaixonada por várias coisas; tenho uma paixão insana pelo café - notável-, amo meias e luvas, sou apaixonada pela minha mini bola de pelos ambulante, tenho uma paixão viciante pelas palavras –as quais juntas formam os meus poemas-, tenho até paixão, por um professor de literatura lindo e perfeitamente irônico. Ainda tenho os livros dele na estante, enfim, eu tenho várias paixões.
Mas em meio a tantas paixonites, eu possuo uma que é dominante, única, arrebatadora e mortal. Sim, ela é mortal, pois tenho uma amiga que morre toda vez que lê algo que escrevo com essa paixão, ela chega a odiar essa tal coisa. Então Mell, morra: Eu tenho uma incontrolável paixão por VIOLINOS!
Especificamente, um violino. Na verdade é um violinista que se esconde na serra da cidade maravilhosa, eu realmente não consigo ficar sem falar na elegância e na frieza dos olhos que faz único e lindo o meu Cavaleiro Negro. Suspiros. Impossível é não lembrar-se do violino.
Na porta da varanda vejo a chuva cair, seguro com uma mão a caneca com café, enquanto a outra alisa vagarosamente minha nuca. Chove há vários dias. Paro. Os olhos enchem de lágrimas; ponho o café na mesa de centro da sala; abro a porta e desço as escadas; saio do prédio; vou para o meio da rua e banho-me com a chuva; como se mais nada importasse, declamo:


Andais sozinho pelas ruas,
Nem a chuva, ousa lhe tocar,
Nada interfere
A frieza do seu olhar.
Ainda cala-me com o toque
Da sua mão.
Senhor da razão,
Faz-me entrar em erupção.
Maldito menino,
Cavaleiro negro do violino.

Respirava fundo a cada verso, tudo é tão poético. As gotas finas e frias da chuva molhavam-me por completo, a camiseta colava-se no meu corpo, os cabelos desgrenhados tentavam fundir-se a minha pele. Sorria. Dançava sozinha a música do meu distante violinista, como se eu pudesse vê-lo. Na sua melodia ele pedia para que eu lembrasse de nunca esquecê-lo.

Gabriela Vaz.