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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Conto de Inverno VII


Sexta-feira à noite, os faróis do carro iluminavam a estrada de barro em meio à imagem confusa da forte chuva na paisagem. Jogada no banco de trás e agasalhada com grossos capotes, eu tentava identificar as formas nebulosas durante o caminho que dava no chalé dos meus pais.
Dirigindo o carro, meu pai cantava junto ao meu cachorro, este com mais privilégio ficou no bando da frente. Atenção, quando você for visitar seus pais que não vê há algum tempo e o seu cachorro lhe tomar o lugar no carro só porque tem disposição de latir no ritmo das músicas sertanejas que o seu pai gosta, com certeza isso é um grande problema. Mas lá estavam os dois como grandes companheiros e, para não perder o costume, meu pai passava a mão pelos cabelos negros que se misturavam à grande quantidade de fios brancos da velhice, coçava três vezes aquele grande nariz e reclamava do meu modo de vida, dessa vez ele ficou indagando-me por que eu não tinha um carro. Lógico que nessa discussão, só ele falava; no inicio eu pensei que ele estava declamando usando apostrofes ao seu bel prazer.
Foi uma eternidade de canções e reclamações, mas finalmente chegamos ao chalé. Na mesa que me esperava para o jantar, uma vistosa torta de cenoura com chocolate, pães quentinhos, queijo e manteiga caseiros, sucos, leite, e claro, reinando no centro da mesa: O café. Não é preciso dizer que me deliciei com esta farta refeição.
Logo depois a televisão foi ligada, meus pais juntinhos assistiam à novela. Meus velhos eram engraçados. Depois de escovar os dentes com a inspetoria da minha mãe, fui deitar. Não é surpresa que o meu cachorro já estava despojado sobre os meus lençóis, empurrei-o e suspirei, um mosquito veio perturbar-me. Despejei nele metade do inseticida, então virei e dormi no mio daquele ar venenoso que não mata as plantas.

Gabriela Vaz

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