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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Conto de Inverno V


Com dizer que eu tenho uma grande paixão? Afinal, eu sou apaixonada por várias coisas; tenho uma paixão insana pelo café - notável-, amo meias e luvas, sou apaixonada pela minha mini bola de pelos ambulante, tenho uma paixão viciante pelas palavras –as quais juntas formam os meus poemas-, tenho até paixão, por um professor de literatura lindo e perfeitamente irônico. Ainda tenho os livros dele na estante, enfim, eu tenho várias paixões.
Mas em meio a tantas paixonites, eu possuo uma que é dominante, única, arrebatadora e mortal. Sim, ela é mortal, pois tenho uma amiga que morre toda vez que lê algo que escrevo com essa paixão, ela chega a odiar essa tal coisa. Então Mell, morra: Eu tenho uma incontrolável paixão por VIOLINOS!
Especificamente, um violino. Na verdade é um violinista que se esconde na serra da cidade maravilhosa, eu realmente não consigo ficar sem falar na elegância e na frieza dos olhos que faz único e lindo o meu Cavaleiro Negro. Suspiros. Impossível é não lembrar-se do violino.
Na porta da varanda vejo a chuva cair, seguro com uma mão a caneca com café, enquanto a outra alisa vagarosamente minha nuca. Chove há vários dias. Paro. Os olhos enchem de lágrimas; ponho o café na mesa de centro da sala; abro a porta e desço as escadas; saio do prédio; vou para o meio da rua e banho-me com a chuva; como se mais nada importasse, declamo:


Andais sozinho pelas ruas,
Nem a chuva, ousa lhe tocar,
Nada interfere
A frieza do seu olhar.
Ainda cala-me com o toque
Da sua mão.
Senhor da razão,
Faz-me entrar em erupção.
Maldito menino,
Cavaleiro negro do violino.

Respirava fundo a cada verso, tudo é tão poético. As gotas finas e frias da chuva molhavam-me por completo, a camiseta colava-se no meu corpo, os cabelos desgrenhados tentavam fundir-se a minha pele. Sorria. Dançava sozinha a música do meu distante violinista, como se eu pudesse vê-lo. Na sua melodia ele pedia para que eu lembrasse de nunca esquecê-lo.

Gabriela Vaz.

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