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domingo, 28 de dezembro de 2014

Na minha dor não cabe a metade do amor que sinto por você.


Decorativo

O vaso estava ali sob a pequena mesa em um canto da sala.
Ele sempre esteve ali fazendo seu papel de vaso.
Ele fora feito por artesãos, sobreviveu séculos e tornou-se um objeto de beleza inigualável.
Era um belo vaso.
E sendo um vaso bonito, ele estava feliz em fazer bem seu papel.
Diariamente, o vaso ouvia exclamações de como suas cores eram harmoniosas, de como suas curvas eram delicadas, e como todo o seu conjunto era encantador.
E para o vaso, estava tudo bem em ser assim.

Até que a flor chegou.


A flor sempre viveu ali no meio de tantas outras flores.
Ela não se sentia muito especial, pois haviam milhares de flores como ela.
Mas ela estava bem, pois mesmo sendo igual, ainda era bela e possuía um aroma adocicado de verão.
Diariamente pessoas passavam por ali e admiravam aquele conjunto que a flor fazia parte, crianças brincavam perto delas, casais se enamoravam deitado nelas
E para a flor, estava tudo bem em ser assim.

Até que foi arrancada e levada para um vaso.


Quando se encontraram, estranharam-se.
Mas não precisou de muito para o vaso admirar a flor
E a flor admirar o vaso.
Pouco a pouco, foi colocado terra no vaso,
Terra que continha histórias e sentimentos sobre de onde veio a flor e de onde o vaso surgiu.
Por fim, quando plantada no vaso, ambos tornaram-se um,
E toda a decoração tornou-se exuberante por aquela união.
Enfim, depois de tanto tempo sem saber o por quê de sua existência,
Eles se sentiam completos.

Mas o tempo passa, e as coisas mudam.
E as vezes para pior.
A flor começou a murchar,
O vaso começou a partir.
Talvez um pouco de cola, água e sol resolvesse,
Mas não tentaram isso.
A flor foi levada para o quintal,
O vaso foi para o deposito.
Separados então, sentiram-se vazios.

A flor tornou-se tão comum quanto qualquer outra flor.
O vaso tornou-se tão sem graça quanto qualquer outro vaso.
E a casa ficou sem cor.

Hoje, ambos esperam que o tempo venham cuidar de suas feridas.
Que o sol traga a flor a força e a beleza,
Que o amor repare as rachaduras do vaso.
Tudo para que logo eles possam se juntar,
E se completar.

domingo, 31 de agosto de 2014

Take a sad song and make it better

Foi um dia difícil. Ele havia trabalhado por doze exaustivas horas, e quando chegou em casa, tudo estava uma zona. Tudo estava uma zona. Sua saúde não ia bem, ele não via os amigos, as contas o sufocavam e ele possuía orgulho demais para voltar pra casa dos pais. E há muito tempo ele abandonou seus sonhos, decidiu apenas focar em coisas que o permitisse sobreviver, como faculdades e empregos. Do amor ele também desistiu, pois isso demanda tempo e dinheiro, e essas duas coisas ele não tem de sobra. Tudo estava uma zona.
Foi retirando cada peça de roupa e jogando em qualquer lugar pela casa, ao chegar no quarto, já não possuía nada. Não possuía esperança, vontade ou fome, jogou-se na cama e olhou o plano de fundo do desktop do notebook. Seria aquele brilho de vida artificial que o mantinha vivo? Ele o segurou delicadamente e o trouxe para perto, limpou a tela suja grosseiramente com os dedos e vasculhou futilmente a internet. Ele viu os gênios do mundo que desistiram de suas faculdades, por que ele também não era? Por que todos não poderiam ser gênios? Por que guerras? Por que dinheiro? Por que tudo isso destruía com os desejos e planos ejaculando uma camada de concreto de um mundo banal e desumano? Fazer-nos engolir a pulso esse estupro de sonhos, onde você tem que ser rotulado a qualquer custo, onde se é forçado a seguir uma politica. Para ele esse mundo era sujo demais, seja lá quem ou o que que criou esse mundo, apenas desperdiçou seu tempo, pois ali só viviam humanos que viam diferença em alguém ser negro, ou mulher, ou gay, ou pagão, ou anão, ou tudo isso junto. Pessoas que são petulantes e egoístas a ponto de acharem que em um universo ainda não totalmente explorado, só nós seriamos os únicos seres vivos e pensantes a viver nele. Disso tudo ele estava farto.
Foi até o banheiro, sentou-se no único trono que haveria para ele na vida e cagou. Cagou pra tudo, para as pessoas e as regras que elas faziam. Deu a descarga já decidido que daquele dia ele não passaria. Colocou o notebook sobre o vaso e deixou tocando suas músicas favoritas, ligou o chuveiro e agradeceu por pelo menos ter água quente para banhar-se. Sentou-se naquele chão frio de um box que quase não cabia ele, deixou que a água caísse violentamente nele machucando sua pele, mas ao mesmo tempo, o limpando de toda aquela imundice. Ele tinha tudo agora, tinha a navalha e a carne, tinha a chance de livrar-se daquele corpo imenso cheio de rancor e frustrações.
Tudo estava uma zona, e tudo ficaria assim. Mas uma velha música tocou, e mudou tudo no último segundo, foi possível até ver um fio fino de sangue escorrer.

"So let it out and let it in
Hey, Jude, begin
You're waiting for someone to perform with
And don't you know that is just you?
Hey, Jude, you'll do!
The movement you need is on your shoulder"

Aquilo incrivelmente reergueu ele. Quem se importa como o mundo está estragado? Ainda existia partes que algo puro ainda possuía vida, que possuía o verdadeiro desejo de viver, e era pra essas coisas que ele precisaria se manter vivo, pois era nesses lugares que ele deveria morar. Largaria tudo, suas lembranças e seu nome, ele seria do mundo e o mundo seria dele, voltaria a perseguir seu sonho, e mesmo que isso o fizesse passar fome algumas noites, ele faria aquilo e estaria feliz com aquilo. Ele viveria uma canção, amaria sem limites, beberia e riria com as mais diversas pessoas e culturas. Estava decidido, tudo estava uma zona, e tudo ficaria assim, ele aprenderia viver naquela desordem e ainda assim, seria feliz. Levantou-se daquele chão que ele já não achava frio e sorriu para seu reflexo na porta de vidro do box.

Tudo daria certo. Daria, se naquele momento seu chuveiro não explodisse por conta da sobrecarga da energia por estar muito quente, e a fiação ter encostado nele por ser alto demais. Seu corpo desengonçado caiu no chão, ele lembrou que alguém uma vez disse sobre uma lei do retorno, onde tudo que desejasse voltaria três vezes a mais para você. Se ele também tivesse insistido naquela pessoa, hoje eles morariam juntos, e ela teria salvo a sua vida. Mas não, ele jazia ali, frio e ainda sujo, com ideias que demorou demais para ter, ideias que todos que viviam com ele deveriam ter. A polícia só encontraria seu corpo uma semana depois.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Qualificação de lembranças

Ela sentou mais uma vez naquele cubículo aonde trabalhava. Dividia a sala com mais seis pessoas que falavam ao mesmo tempo ao telefone. Ela estava cansada de sempre ligar e lidar com pessoas mal humoradas, que consequentemente a deixam em péssimo humor. Por sorte, hoje começaria a trabalhar com uma nova empresa, e então deveria ligar para alguns teatros, e isso a deixou um pouco empolgada.
Conhecer mais os bastidores dos teatros dos quais ela sonhava conhecer, estava tornando todo aquele trabalho muito mais divertido, o próximo que ela entraria em contato, se tratava de uma construção majestosa, com música e arte explodindo por suas paredes antigas.

- Bom dia, eu gostaria de falar sobre a aparelhagem sonora do teatro, sabe com quem posso tratar isso?
- Sim, claro. Pode ser comigo.

Algo naquela voz a trazia uma certa lembrança. Mas resolveu ignorar.

- Ótimo, desculpa, como você se chama?
- Fernando.

E tudo veio em um flash violento, ela fez de imediato a ligação do teatro em que estava ligando com a pessoa do outro lado da linha, era ele. Fernando. Aquele homem a tempos atrás, brincou com muita maestria com os sentimentos dela, ela sentiu o sangue ferver, suas mãos suavam, seus olhos marejavam, sua voz teimava em falhar, mas ela precisava continuar seu trabalho.

- Senhor Fernando, poderia me dar algumas informações de que tipo de aparelhos vocês usam hoje?
- Sim, nós usamos o aparelho....

Ele falou por mais ou menos um minuto. Um minuto onde ela lembrava de cada nuance daquele homem, onde ela relembrava amargamente da voz dele quando a chamava para a cama, do olhar frio que ele a dava e que mesmo assim, ela acreditava conter todo o carinho e amor que precisava.

- Senhora? Está aí?
- Estou, desculpa Fernando. Me diz, vocês usam isso a quanto tempo?
- Há uns cinco anos, eu creio.
- Sei. - Há cinco anos eles terminaram.- E vocês estão satisfeitos com esses aparelhos? Tem alguma melhoria em mente?

Fernando continuava a falar com muita empolgação de todo o sistema, e ela massacrava seu coração com lembranças de uma época que pensava ter esquecido. Tola, isso estava mais vivo que toda a vida dela depois dos últimos cinco anos.

- Senhor Fernando, obrigada pelas informações. Você poderia me dizer seu sobrenome?
- Sim, é Cruz.

E por infinitas vezes elas imaginou ter esse sobrenome para ela.

- E qual teu cargo aí no teatro?
- Violinista.

É, ela sabia. Ela sabia muitas coisas sobre ele, aonde morava, de quais animais gostava, qual era a cor preferida, o que gostava de comer de madrugada. Ela sabia que ele era violinista, aquele violinista que seria o único na vida dela. Ela tentava com todo o seu esforço travar seus sentimentos para não vacilar na ligação. Certa vez quase deixou escapar um soluço do choro que a sufocava.

- Senhor Fernando, muito obrigada pelas informações, tenha um bom dia.
- Disponha. Foi bom falar com você, Vasquéz. 

E desligou. Ele sabia que era ela. Mas eles não poderiam mais estar juntos. Aquela infelicidade do destino aconteceu só para lembrá-los de um sentimento doloroso que estava enterrado. Agora ele estava vivo, e assim continuaria pela eternidade, pelos textos, pelas músicas. Ela naquele cubículo respirou profundamente e limpou as lágrimas, reabriu a planilha e marcou aquele teatro com um fundo vermelho. Não estava no perfil. 

Passou para a próxima ligação.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Mudanças e Andanças

Senti o cheiro daquela cidade e decidi que ali eu não podia mais ficar.
O cheiro que devia ser agradável, para mim tinha um odor fétido e ácido. Corroía-me.
Eu não acredito em pessoas que desejam permanecer iguais por toda vida. Não, não senhor, eu duvido que elas possuam vontade de viver.
Quando eu era mais nova, me colocavam regras, me determinavam o que comer e o que vestir, o que ouvir, o que ler e com quem falar. Eu nunca gostei de regras. Depois de um tempo, pensei que todas essas re(strições)gras era o adulto frustrado tentando me frustar, e disse a mim mesma "Não Gabi, você vai ser livre". E assim, passei cada dia a lutar por essa tal liberdade.
Chutei o balde, quebrei o pau da barraca, rodei a baiana. Bati testa com a sociedade, Gosto de Rock, vejo desenhos, me visto de preto, uso maquiagem forte, gosto de sair a noite, não vou usar rosa, eu odeio novela, prefiro livros a ganhar roupa, gosto de bonecos, jogo (jogava) futebol, não acho os Estados Unidos a melhor coisa do mundo e sou bruxa.
O objetivo não era chocar, e nem ganhar o rotulo de "rebelde". O objetivo era só dizer para todo mundo que eu sou eu. Eu não sou a menina da novela ou da revista. Eu não sou a vizinha. Eu sou eu e ponto. Não faço sentindo, e nunca quis fazer. Sentido são para as pessoas que precisam de justificativa na vida, e eu não procuro por respostas, eu busco alegria e aventuras.
Mas o que eu queria dizer é que ninguém nasceu para viver em apenas um lugar. Desde os primórdios, os homens viraram nômades para buscar um lugar novo para viver, onde as coisas fossem boas. O homem não deixou de ser nômade, ele apenas passou a ser acomodado. Então entenda que eu não consigo acreditar em uma pessoa que não gosta de mudar.

Com tudo isso, eu arrumei a malas, beijei meu pai e minha mãe e fui ganhar mundo. Amigos, amores e família são importantes, mas também é necessário perceber quando é hora de ir. Desapego, desde que percebi que prender faz mal e machuca, comecei a praticar o desapego.
Agora eu senti o cheiro dessa nova cidade que moro. Ainda não tem cheiro de lírios regados pelo orvalho, mas pelo menos é um cheiro que me deixa feliz e tranquila. No momento em que estou, parei para aperfeiçoar o necessário para continuar andando. E que os deuses em que creio, me permitam nunca parar de andar. O mundo é grande demais para se obedecer suas divisórias politicas. Eu nunca gostei de política.
Cortei o cabelo. Desapego. Não preciso me preocupar, eu apenas tenho que estar em harmonia com o que há dentro de mim.

E dentro de mim, só há liberdade.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Nicholas

Durante quatro dias pude redescobrir várias opiniões que lutei em formar durante minha vida inicial de poeta. E realmente, é sobre o amor que mais me divirto. O amor em si, é uma façanha divina que foi dada aos homens como forma de alegria. Eu discordo. Amor é algo tão imenso, que eu diria ser a palavra que move o mundo. Sim, é, o amor faz guerras, o amor faz desunião, o amor faz rancor, o amor faz festas, o amor faz dúvidas, o amor faz gênios. O amor faz tudo, simplesmente por ele ser um sentimento abstrato, enorme, e sem definição.

Tornei-me poeta, justamente por querer viver todo o amor. Por querer carrega-lo no peito e assumir todas as suas faces. Sinceramente, é a coisa mais difícil do mundo. Apaixonar-me, sofrer, rir, chorar, sonhar, desejar, enlouquecer e morrer. Tudo isso passei por amor. E dado os últimos dias, por conta da pessoa que me fez escrever isso, revivi todas essas emoções, e por fim concluí que o amor mais uma vez está sendo mal interpretado.

O que é o amor? Eu nunca poderei responder com total certeza, mas posso afirmar que amor é acordar esperando ver o sorriso de alguém; é em poucos dias sentir-se segura com um estranho; é entre mil vozes alteradas, ouvir apenas uma; é saber distinguir o amor, e notar suas diferentes faces. Poderia muito facilmente concluir que estou falando sobre um amor carnal, mas tudo isso é tão aplicável em um amor fraternal, paternal, religioso ou platônico, que não faz sentido generalizar esse sentimento.

Confessar o amor tornou-se algo tão restrito, que ninguém mais sabe quando pode confessá-lo. Culpam-se até. Condenam-se. Porque não se fala mais sobre amor. Hoje falamos sobre sexo, sobre carne, sobre homossexualismo, sobre quem é digno do reino dos céus, sobre qual a melhor educação para uma criança, mas não falamos sobre o amor. Ninguém sabe mais o que é amar.

Esse não é um texto sobre um homem que me conquistou em quatro dias. Esse é um texto sobre um ser humano incrível que em quatro dias me fez pensar em todas as minhas convicções. Em vinte anos de vida, durante os últimos seis ou sete anos, tentei definir o amor, mas só agora quando sentei em sua frente à meia-luz daquele restaurante, pude concluir o quanto é infinito e indefinível. Vestíamos uniformes que nos deixavam iguais, mas com toda a falta de personalidade na roupa, sobrava as conversas para descobrimos o próximo. Detalhes como o brilho dos olhos em certos assuntos, o comportamento das mãos em algumas conversas, gritavam para mim aquela pessoa que mesma vestida de preto, explodia em cores. Em seus quase trinta e um anos, ele me confirmou ideias que tenho com quase vinte e um, me fez perceber que cedo ou tarde, existem coisas que vamos aprender, e que nem sempre precisamos aprender isso vivendo na pele. Ele me fez acreditar que fazer o que se ama, realmente vale muito mais a pena, mesmo que demore de acontecer. O importante é não desistir. Ele me disse que quem ama, dá liberdade. Ele me mostrou que amor, não é só matrimonial.

Por perceber o amor tão tardio, não tive coragem e nem tempo de confessar. Me arrependo. Tudo gira em volta do amor, e por ele reger o mundo, nunca se deve negá-lo. Não amar, é sofrer muito mais do que sofrer por amor. A felicidade está em permite-se amar, conhecer o amar e ser livre como ele.  Eu sofri por prender o sentimento, mas antes eu do que o mundo inteiro. Afinal, os escritores são como janelas de um trem, eles veem e aprendem sobre as mais variadas coisas do mundo para que outros venham ver através deles as experiências da vida que não necessariamente é preciso passar. E a cada pessoa que olha através de nossos vidros, aprendemos mais uma história, consolamos mais um coração, revigoramos mais uma mente. Por conhecer tão intimamente o amor, valorizamos amar, e amamos tudo aquilo que podemos. Meu erro foi esquecer desse detalhe, e envergonhar-me por me apaixonar por um amigo. Um amigo, que assim o defini, mesmo não o conhecendo bem, só porque meu coração me disse que ele era uma pessoa certa para amar.

Não há vergonha em amar. Já dizia o sábio Alvo Percival Wulfrico Brian Dumbledore: “Não tenha pena dos mortos, Harry. Tenha pena dos vivos, e acima de tudo, daqueles que vivem sem amor.”
Amigo, me perdoe por te fazer sentar em meu vagão e não conseguir ver nada em minha janela. As coisas que me disse foram tão lindas que as eternizo em minha mente e em minhas palavras. Obrigada por esses infinitos quatro dias. Amigo, ame como eu não tive coragem de amar, seja livre como estou tentando ser agora, não tenha medo de caminhar no escuro. Não tenha medo do escuro. Os lugares ainda não explorados são os que precisa de mais coragem, e de luz. E querido amigo, você é a luz em pessoa. Meu querido e breve amigo, aceite as palavras que eu escondi, minhas lagrimas também.

Estou feliz.

Sentirei saudades.


Eu te amo.