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domingo, 25 de março de 2012

Conto de Primavera X

Não sei se isso já te aconteceu, talvez sim, afinal, eu não sou a única pessoa do mundo com problemas. Senti-me como uma raposa, traiçoeira e vigarista, mas, a minha intenção não era prejudicá-la. Talvez, eu pensasse que não era. Nunca confiei em mim.
Ela. Tentei fazer da vida dela a vida que eu queria ter quando tinha sua idade, quis que ela não cometesse os meus erros. Acabou que ela comentou outros erros, e piores. Quando vi o meu mais “novo erro”, fiquei horrorizada. Sou um monstro!-pensei-. Meu olhar tornou-se perdido no nada, minha face, pálida. Não tinha mais vida.
Vida... Eu estraguei a vida dela. E ela não sabe, em parte. Recuso-me a olhar para ela, recuso-me falar com ela. Esquecê-la-ei. Um vento quente faz arder meus olhos banhados por lágrimas, o verão chegaria daqui a três dias, ah, eu odeio o verão um pouco mais do que a primavera. Não suporto o calor.
Por isso, sou fria. E por que ainda choro? Meu erro foi conhecê-la, somos diferentes apesar de iguais. Não posso querer viver com ela, não é permitido que eu a ame. Tenho uma vida diferente com novas escolhas, e, tenho que enfrentá-las. Esse meu mundo não a pertence.
Ligo a moto e piloto até a praia. Finalmente uma brisa fresca, como a primavera é irônica. Esquecê-la-ei.

terça-feira, 13 de março de 2012

Conto de Primavera IX

Eu disse que a primavera era pior das estações, incrível ou não, enquanto todos estão felizes, eu fico em total oposição.
Outrora aquele príncipe nórdico que enfrentaria o mundo pelo o meu amor, hoje, ele me diz que estou afastando de mim às pessoas que me amam. Parece dramático, romântico. Uma verdadeira novela. Parece que estou fazendo uma grande hipérbole, pontos que são comuns em uma alma poeta, pena, que isso tudo não é mais uma hipérbole minha.
Mas eu o perdi, ele e um tanto de riqueza. Perdi para o meu ego, meu monstro, eu o perdi por mais uma história de sucesso. Meu cachorro pulou no meu colo para arrancar-me de uma mortal melancolia, coloquei sua cabeçorra entre minhas mãos e o olhei nos olhos, sorri e beijei-o a testa.
Ele saiu saltitante achando que tinha salvado o mundo. Eu fiquei a olhar as minhas mãos. Lembrei. Queria que entre elas estivesse o rosto dele. Queria estar encarando os olhos verdes daquela face, beijar aquele homem.
Mas eu o perdi, ele e um tanto de amigos. As minhas riquezas. Afastei-me então do que ainda tenho, para que as últimas lembranças sejam boas. As cores monocromáticas da televisão, bombardeavam-me como se fossem raios de luz. Mas elas eram raios de luz. Fiquei apática, estática e monocromática, olhei o calendário e faltavam mais alguns dias para o verão. Até quando a vida seria injusta?
Não, a vida não é injusta, somos nós que burlamos as regras e depois a culpamos por nos aplicar a justiça.

domingo, 11 de março de 2012

Conto de Primavera VIII

Outrora sonhei que na cama de lençol branco, se formava a sombra da sua mão que percorria meu corpo. Lembrei dos seus dedos calejados desenharem-me o rosto em meio a palavras embaraçadas antes daquele beijo. Não fazia nem uma semana, e minha mente revirava as lembranças atrás de um sorriso seu, procurava um modo de tê-lo novamente.
No meu sonho de sombras sua boca me beijava o umbigo, mantive os olhos fechados, sabendo que se aproximaria do meu rosto. Sua respiração o denunciava, era tão forte próxima a pele que me arrepiava. Esperar é um exercício de paciência e desejo, mas com o passar do tempo, também se transforma em martírio.
Abracei-me forte, apertei o peito como se quisesse arrancar essa agonia que me afligia. O vento que invadia o quarto através da janela escancarada fez-me imaginá-lo como uma seda deslizando sobre mim.  Deus! Oh Deus, que mal eu fiz para desejar tanto esse homem que a mim é proibido? Que fiz, eu, para ter que esperar um tempo que nunca passa e não chega?! Ah Alphonsus, acho que também escuto a lamúria dos sinos.
Ouço campainha tocar, arrumo o cabelo e mudo meu semblante, na porta vejo uma surpresa. Ele vinha com o mesmo sorriso, o mesmo perfume que me embriagava forçando-me a fechar os olhos. Senti sua mão quente afagar meu rosto. Sorri.
Uma flor desabrochava lá fora.

Conto de Primavera VII

A tarde esvaia com tons de um vermelho rose que provinham dos últimos raios de sol naquela parte da terra. Dentro da casa, à meia luz, olhava pacientemente uma garrafa de vinho tinto vazia, me lembrando que fazia algumas horas que naquela hora ele havia chegado outrora. Peguei uma taça e olhei o resto de vinho que ali permanecia, era tão rubro e vivido... Não sabia mais se era a bebida ou o desejo dele, mas, apenas nos três éramos testemunhas e cúmplices de tal consumação. Sim, nos três, eu, ele e o vinho.
Ele chegara do mesmo jeito de sempre, um pouco acanhado. Aquela idéia o assustava, e não o culpo. Possuía os mesmo olhos maliciosos, e, o mesmo sorriso silenciador. Só as mãos dele, calavam qualquer parte do meu corpo, porém, contive meus pecados e lhe dei um beijo no rosto.
Ele ainda tocava violão. Lembro de quando fiquei fascinada ao vê-lo tocar. Tocava ainda a velha e boa Bossa. Entre um acorde e uma ironia, eis que chega o terceiro, o agente corruptor: a taça de vinho. Os risos aos poucos começaram a cessar, o silencio vinha carregado de olhares carnais, um desejo que nunca escondi daquele homem. Logo vieram os carinhos, os beijos, abraços; cobria-o de amor e ele descobria-me de tudo.
Mas logo o tempo passou, e a luz que era meia, passou a ser inteira e radiante, e ele partiu. Ficamos a dois, o vinho e eu, a devanear pelo dia sobre as coisas que ocorreram. Quando a tarde voltou, me encontrei no último cálice, quando ele retornaria?
Teria que esperar alguns meses. De supetão peguei as chaves e bati a porta. Não esperaria sequer mais um segundo.