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domingo, 11 de março de 2012

Conto de Primavera VIII

Outrora sonhei que na cama de lençol branco, se formava a sombra da sua mão que percorria meu corpo. Lembrei dos seus dedos calejados desenharem-me o rosto em meio a palavras embaraçadas antes daquele beijo. Não fazia nem uma semana, e minha mente revirava as lembranças atrás de um sorriso seu, procurava um modo de tê-lo novamente.
No meu sonho de sombras sua boca me beijava o umbigo, mantive os olhos fechados, sabendo que se aproximaria do meu rosto. Sua respiração o denunciava, era tão forte próxima a pele que me arrepiava. Esperar é um exercício de paciência e desejo, mas com o passar do tempo, também se transforma em martírio.
Abracei-me forte, apertei o peito como se quisesse arrancar essa agonia que me afligia. O vento que invadia o quarto através da janela escancarada fez-me imaginá-lo como uma seda deslizando sobre mim.  Deus! Oh Deus, que mal eu fiz para desejar tanto esse homem que a mim é proibido? Que fiz, eu, para ter que esperar um tempo que nunca passa e não chega?! Ah Alphonsus, acho que também escuto a lamúria dos sinos.
Ouço campainha tocar, arrumo o cabelo e mudo meu semblante, na porta vejo uma surpresa. Ele vinha com o mesmo sorriso, o mesmo perfume que me embriagava forçando-me a fechar os olhos. Senti sua mão quente afagar meu rosto. Sorri.
Uma flor desabrochava lá fora.

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