Ouvia o barulho da música. Parei quando escutei a música da
chuva.
Havia coisas no meu coração das quais não entendia, e talvez
até nunca entendesse, mas ao ver as gotas de chuva que freneticamente batiam e
escorriam pelo vidro do ônibus, entendi que pelo menos aquele momento era algo
que eu durante muito tempo precisei. Desci alguns pontos antes do meu, e a cada
passo fui desejando desesperadamente que a chuva se tornasse mais forte cada
vez mais.
O bom do outono são essas chuvas que vem para limpar-nos, tirar
toda a barreira envolta e nos permitir rir e chorar sem que ninguém veja. As
pessoas que andam olhando para o chão em dias chuvosos, provavelmente não
entende
ram a simplicidade da vida, e seguiram com seus problemas sem respostas.
Mas eu olhei para cima, eu vi toda aquela água cair de um lugar onde habita o
real e o imaginário, o céu. E as gotas que escorriam no meu corpo, eu deixava
escorrer junto minhas lágrimas, e as gotas que minha pele absorvia, eu deixava
absorver toda pureza de um fenômeno. E com essa renovação de mim, observei
tantas respostas que estavam contidas nas nuvens cinza dentro de mim. Apenas
precisava chover.
E quem poderia ver através da máscara? Aceitar o fantasma de
cada um, o gênio do mal que se escondia por trás de cada coxia, esperando
apenas o amor. Entendi em mim, minha existência. Esperei em mim, a chuva
passar.