Descobri mesmo. Tirei as roupas, as mágoas, as lágrimas, as
dores e as cores. Menos do batom.
Da boca que sai tantas palavras que constroem o meu eu, não haveria o porquê de tirar o batom. Com sua cor rosada, um pouco vermelha, um pouco lilás, um pouco de uma flor aqui e acolá, enfeitava minha boca, mascarava as palavras duras. Por isso, o batom.
Da boca que sai tantas palavras que constroem o meu eu, não haveria o porquê de tirar o batom. Com sua cor rosada, um pouco vermelha, um pouco lilás, um pouco de uma flor aqui e acolá, enfeitava minha boca, mascarava as palavras duras. Por isso, o batom.
Mas, despenteei o cabelo. Eu queria me ver louca, fora de
tantos padrões. Linda. Meus cabelos, que são no plural, pois sempre estou em
mudança, desgrenharam e formaram desenhos sobre a minha pele, desenhos tão místicos
que só eu entenderia. Mas ele era eu, e eu me tornei eu.
No corpo marcas de agressões do tempo, dos outros e minhas.
Marcas que fiz para lembrar um sentimento, mesmo que o causador a mim não
volte, eu terei sempre em memória. Riscos que fiz na pele por um pensamento que
só eu entendo, e talvez só eu continue a entender, porque é meu, porque sou eu.
As curvas que não são perfeitas, nem as medidas, em parte provocam em mim uma
confusão em saber se estou triste ou não. Deveria? Saúde é importante, mas
deveria rejeitar algo que fiz chegar pelo longo prazo do tempo? Talvez isso que
está em mim não me pertença, mas não quer dizer que eu não vá odiar e me
desvalorizar, minha beleza vem da minha confiança e inteligência, não apenas do
salão de beleza.
Toquei-me. Fechei os olhos. E foi como ter o presente de
natal que você passou o ano se comportando para ganhar. Ao olhar-me, sorri um
meio sorriso torto, pisquei meus olhos que até hoje não sei se são grandes ou
pequenos, apenas os acho perfeitos. Tirei o batom. Não precisava mais
embelezar-me de cor. Descobri que até em preto e branco, me amo. Entendo-me. E
assim, eu me descobri.
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