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sábado, 14 de janeiro de 2012

Conto de Primavera VI


Estava indo ao ponto de ônibus, esqueci de colocar gasolina na moto. Acompanhada de meu amigo, o mesmo que é psicólogo e que ainda tem um enorme Black Power (só que reduzido a trancinhas), estávamos esperando meu ônibus. Era já noite, não fazia frio e nem calor, clima típico da primavera. Foi então que começou a perseguição dos ônibus.
Passou um que ia para o Terminal da França. Passaram um ou dois diferentes, mas logo vieram três, um atrás do outro, eu disse três Terminal da França. É angustiante a espera do transporte coletivo, ficamos minutos a fio esperando, e quando algo surge lá no horizonte de milhões de carros, apertamos os olhos para poder ler o letreiro, o coração dispara com a esperança de ir para casa com a clara possibilidade de superlotação, e então vem a decepção: outro Terminal da França. E fica mais frustrante quando as horas vão passando e a única coisa que passa é o maldito Terminal da França, e o sacana do meu amigo rindo da minha casa de desiludida. E eu nem sabia em que raio ficava o Terminal da França, e o que é que tem tanto nesse lugar para ter infinitos ônibus de todas as cores?! Estava indignada, e me irritava mais a cada Terminal da França que passava. Vou precisar de horas com um psicólogo.
Mas toda tortura tem seu fim. Meu ônibus chegou, despedi-me. Ao entrar, encontro outra frustração: o ônibus estava super lotado.
Gabriela Vaz

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Conto de Primavera V


A chaleira esquenta lentamente no fogo, o vapor branco saía lentamente fazendo curvas e voltas, suaves e delicadas. Apesar do nome chaleira, o perfume que exalava era de café, penso que o nome certo deveria ser cafeleira. Talvez... Não, chaleira era melhor.

O termo viciado é visto hoje de forma pejorativa, mas, certa vez um grande amigo e professor de Biologia, companheiro e fornecedor particular de café, me mostrou que há vícios saudáveis, e, é idiotice ser preconceituoso com a palavra “viciado”. Tudo depende do vício, claro.

O café, em grande quantidade, poderia não ser saudável. Uma droga que aos poucos mata, porém, nem eu e nem meu professor ligávamos muito. O café era bom, gostoso, e éramos viciados. Quanto a minha hiperatividade causada pela bebida, não é uma coisa que se deva levar muita importância.

Negro. Negro com algumas partes amarronzadas, isso fazia um perfeito contraste com a xícara branca, e caía perfeitamente bem com biscoitos. Quente ou frio; no verão, primavera, outono ou inverno; dia, noite ou a tarde, não importa, o café se encaixava perfeitamente em qualquer ocasião.

A chaleira apitou, peguei-o e derramei no bule. Em uma bandeja havia biscoitos, xícaras brancas e o bule. Levei com um sorriso para a varanda, onde belas angiospermas desabrocharam. Jurei que eram plantas pteridófitas. Sentei na cadeira e servi o café, do outro lado da mesa, cheio de novidades, permanecia o meu amigo, companheiro de natação, fornecedor de café e professor de Biologia.

Gabriela Vaz.