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domingo, 11 de março de 2012

Conto de Primavera VII

A tarde esvaia com tons de um vermelho rose que provinham dos últimos raios de sol naquela parte da terra. Dentro da casa, à meia luz, olhava pacientemente uma garrafa de vinho tinto vazia, me lembrando que fazia algumas horas que naquela hora ele havia chegado outrora. Peguei uma taça e olhei o resto de vinho que ali permanecia, era tão rubro e vivido... Não sabia mais se era a bebida ou o desejo dele, mas, apenas nos três éramos testemunhas e cúmplices de tal consumação. Sim, nos três, eu, ele e o vinho.
Ele chegara do mesmo jeito de sempre, um pouco acanhado. Aquela idéia o assustava, e não o culpo. Possuía os mesmo olhos maliciosos, e, o mesmo sorriso silenciador. Só as mãos dele, calavam qualquer parte do meu corpo, porém, contive meus pecados e lhe dei um beijo no rosto.
Ele ainda tocava violão. Lembro de quando fiquei fascinada ao vê-lo tocar. Tocava ainda a velha e boa Bossa. Entre um acorde e uma ironia, eis que chega o terceiro, o agente corruptor: a taça de vinho. Os risos aos poucos começaram a cessar, o silencio vinha carregado de olhares carnais, um desejo que nunca escondi daquele homem. Logo vieram os carinhos, os beijos, abraços; cobria-o de amor e ele descobria-me de tudo.
Mas logo o tempo passou, e a luz que era meia, passou a ser inteira e radiante, e ele partiu. Ficamos a dois, o vinho e eu, a devanear pelo dia sobre as coisas que ocorreram. Quando a tarde voltou, me encontrei no último cálice, quando ele retornaria?
Teria que esperar alguns meses. De supetão peguei as chaves e bati a porta. Não esperaria sequer mais um segundo.

Um comentário:

Anônimo disse...

SIMPLISMENTE EMOCIONANTE, GOSTO DE VER COMO TEMOS TALENTO E ESPERANÇA NO FUTURO.
PARABÉNS!!!!