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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Conto de Inverno IX


Voltava. Hoje é o primeiro dia que não chove, o sol tentava sair do emaranhado de nuvens que carregavam água em todos os seus estados. Os fios de luz tocavam o solo encharcado e fazia as folhas das árvores reluzirem o seu mais esplendoroso verde.
As sombras dos recortes do mato passavam pelo vidro do carro e paravam, e passavam, pelo meu rosto como um filme. Acariciava a cabeçorra do meu pequeno cão, que retorcia-se de preguiça nas minhas pernas. Voltava, meus pensamentos eram aéreos, mas sempre tive os pés no chão. Voltava para a realidade.
Gostava do campo, mas as minhas mãos pulsavam para escrever sobre o frenesi da cidade, sobre a valsa de cores que a noite esbanjava em suas placas de neon, sobre o passar elegante de um belo empresário infeliz e o músico de rua inundado em felicidade. Voltava para os meus poemas, minhas colunas do jornal.
Uma parada para o almoço. Passava do meio-dia, meu cachorro feliz esticava as pernas, eu, mais feliz ainda, via a chuva voltar, afinal não choveu de manhã, mas nada garanti sobre a tarde. Almocei um prato simples das coisas que um ser humano normal poderia comer; ainda acredito que em uma cozinha de um restaurante de estrada existem mais coisas do que sonha a nossa vã filosofia.
Voltava. Voltei para a estrada, meu fiel motorista – meu pai- voltava a cantas suas músicas sertanejas, meu cachorro voltava a latir no ritmo das músicas de meu pai, voltava a chover. Eu voltava a sorrir.

Gabriela Vaz

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