Páginas

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Conto de Inverno II


Que surpresa! Nunca mais havia visto a chuva cair de tal forma violenta e molhar a terra tão dócil. Aperto meus braços contra o corpo enquanto uma brisa fria açoitava meu rosto embaraçava meus cabelos. Estava esperando o ônibus, no ponto havia poucas pessoas, afinal quem estaria aventurando-se pelas ruas da cidade em pleno domingo chuvoso? Certamente quem tem bom senso, estaria em casa, enfiado nas cobertas comendo pipoca e assistindo filme, ou reunidos com a família, comendo uma lasangna feita pela avó, ou até, em um restaurante com a pessoa amada, comendo algum prato refinado. Uma coisa era certa, eu estava com fome, mas tinha bom senso. Não estava em casa em meio das cobertas vendo um bom filme, porque não gosto de pipoca; não estava reunida com a família, pois não a tinha; e evidente que não estava em um restaurante, pois a pessoa que amava me deixou.
Que se danasse, não precisava de coisinhas legais para me sentir bem em um domingo chuvoso. Além do mais, no outro dia, seria segunda-feira, e não há nada pior que a segunda-feira. Mentira há uma coisa pior: estar com o tênis molhado e apenas um capote fino para se aquecer em meio a uma ventania que me fazia engolir boas mechas do meu cabelo.
Finalmente vejo meu ônibus chegar. Não, o ônibus não é meu, mas vai me levar para casa junto com as minhas compras. Não gosto de pipoca, mas vou comer pizza; não tenho namorado, mas o meu cachorro me fazia uma grande companhia apesar da sua pequena estatura; não preciso de uma avó com um prato de lasangna nas mãos, pois na minha tem um pote grande de sorvete e as seis temporadas completas de House.

Gabriela Vaz

Um comentário:

Anônimo disse...

Pizza e sorvete, incrível não?