Páginas

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Cozinha

Estavam na mesa. Um de frente para o outro, tomavam café. Aquilo era tão amargo quanto todos aqueles sentimentos acumulados, eles se olharam e enfim perceberam que era o fim.

Eles apenas se olhavam, e lembraram de tantos momentos bons. Ele depois de tantos anos notou como era lindo observar ela tomando café, e que era fofo ver seu óculos embaçar por causa do vapor, e que era muito sexy ela estar vestida apenas com uma camisa dele. Através dos óculos embaçados, ela ainda pode perceber como o sorriso dele era bonito, e como o olhar dele lhe transmitia paz e segurança.

Ela melou sem querer a ponta do nariz com manteiga, e os dois riram. Nunca perceberam como era engraçado seus momentos de intimidade. Ele a limpou, e ambos ficaram a fitar profundamente seus olhos no reflexo do olhar do outro. O café esfriou. A relação havia esfriado. E café requentado, não presta.

Eles se olharam, e permitiram-se chorar e arrepender-se. É difícil se acostumar estar só, quando outro alguém é parte de você. Quantas coisas desnecessárias foram ditas, e quantas mil coisas morreram na garganta por falta de coragem, ou até mesmo amor? Quantas vezes foram necessárias abraçar, mas o orgulho impediu? Quando foi que deixaram a frieza petrificar tanto seus corações? Eles se deram as mãos vagarosamente. Ele relembrou de como gostava do toque macio da mão dela, de como sentia saudade das unhas de sua mulher percorrer seus cabelos em um vagaroso cafuné. Ela chorou ao perceber como havia esquecido o toque das mãos do namorado em seu rosto, de como ele a admirava por vários minutos e depois lhe beijava. O café estava aguado. Nada mais possuía um sabor. As lágrimas secaram.

Ele sorriu para ela e disse que lavaria os pratos. Eles fizeram não o máximo que poderia ser feito, mas viveram ao menos o que devia ser vivido. E era isso que não os deixavam com magoas, ressentimento, ou pesar. Tudo aconteceu como eles induziram acontecer, e agora eles que não são mais eles, e sim ele e ela, deviam seguir seus caminhos como sempre imaginaram. Não era um romance duradouro, era apenas o momento de amadurecer com um amigo de verdade ao lado.

- A cozinha é um lugar mágico, não acha?- Disse ela sonhadora.

- Com certeza. – Finalizou ele, realista.

Nenhum comentário: